CARTA AOS PASTORES
VALORES
Como surgem e o que representam
Por Russel Shedd
É sempre importante pensar sobre valores. Eles referem-se aos elementos e experiências que tornam a vida signifi cativa. Valores também tratam de relacionamentos que criam o sentimento que diz “vale a pena viver”. Valores essencialmente motivam pessoas a trabalhar, poupar, gastar, investir e esperar um retorno que recompense o esforço e o tempo investido. Valores podem vir de coisas, sistemas, ideais, experiências, pessoas e muito mais. Qualquer coisa ou experiência que dá significado à vida seria um valor. Qualquer bem no mundo criado pode se tornar um valor, como o teólogo Thomas Oden reconhece no seu livro Two Worlds (Dois Mundos), que descreve a morte da modernidade nos Estados Unidos e na Rússia.
Valores são tentadores porque prometem felicidade. Ela pode ser imediata ou a longo prazo. Jovens estudam dia e noite para passar no vestibular e ingressar numa boa universidade que ofereça o curso mais desejável. Sacrificar-se para tornar-se aluno da melhor universidade e conseguir ser aprovado suscita no estudante a felicidade de ter conquistado um valor intermediário. Em seguida, precisa trabalhar duro para alcançar uma meta que servirá como um degrau na procura de uma futura posição que pague bem. Tem muito significado para o estudante que deseja este valor. Talvez poderá acumular outros valores, como casar com uma moça bonita e bem colocada na escala social. Valores como estes motivam a maioria dos jovens ambiciosos.
Os valores competem entre si. Na corrida para se alcançar sua meta, o estudante poderá criar um atrito sério com seu pai que queria que fosse um mecânico como ele próprio é. O valor de subir para um alto nível na sociedade compete com o desejo de agradar o pai. O pai de Martinho Lutero quis que seu fi lho fosse um advogado bem-sucedido, não um monge. O confl ito na carreira foi fonte de ansiedade para o reformador. Competição entre valores cria ansiedade! O professor Oden aponta para uma verdade prioritária. “Quando se eleva um valor fi nito para a centralidade, alguém escolhe o que Jesus e os cristãos chamam de um ‘deus’. Trata- se um valor finito como algo do qual não se pode conceber outro valor mais alto” (p. 95). O teólogo Paul Tillich acreditava que o último valor está dentro de nós. Seria o único deus que existe, um deus criado pela escolha de um valor pelo qual todos os outros são julgados e avaliados. Onde está o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, o Deus criador do universo e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo?
Quando se atribui valor a um bem que não seja Deus, esse valor se torna idólatra. Paulo descreve este pecado mais grave cometido pela humanidade como “trocar a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis” (Rm 1.23).
Quando valores não centram em Deus, automaticamente as pessoas procuram valores humanos temporais, idólatras. A idolatria trata um valor limitado como se fosse absoluto, segundo afirmou Agostinho. Um fi lho ou cônjuge em quem concentramos nossa principal fonte de felicidade tem potencial idólatra (veja Oden, p.95). Por isso, Paulo entendeu que “ganância... é idolatria” (Cl 3.5b).
A tendência de todos os descendentes de Adão é claramente atribuir às coisas boas, tais como relacionamentos familiares, sucesso, uma refeição especial, sexo ou qualquer outro bem, um valor substitutivo, destronizando Deus. Nesse caso, a satisfação vem do bem e não de Deus, motivo pela qual os homens não agradecem àquEle que lhes deu o valor desfrutado. Contudo, congratulam-se pelos próprios esforços.
A salvação, que tem um valor inestimável, não pode ser alcançada pelas obras ou por meio de justiça própria, simplesmente porque nesse caso poderíamos agradecer a nós mesmos e não ao doador de todo bem.
“Dele, por ele e para ele são todas as coisas” (Rm 11.36) é a declaração que apresenta a visão bíblica do único Deus verdadeiro. A defi nição de quem Deus é nos ajuda a entender como valores intermediários, e não últimos, se tornam os alvos de nossa busca. Se nosso prazer não encontra sua maior satisfação em conhecê-lO, gozar comunhão com Ele e obedecerlhE, automaticamente buscaremos um valor menor. Certamente, esta seria a razão pela qual o maior de todos os mandamentos é amar a Deus de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento e de todas as forças (Mc 12.30). Nossos valores estão enraizados naquilo que mais amamos.
À luz desta verdade, podemos melhor entender por que “o amor ao dinheiro (algo tão valorizado por muitos) é a raiz de todos os males” (1 Tm 6.10). Cobiçando riqueza, abandonamos o maior bem. Fazemos da riqueza nosso ídolo e relegamos o Senhor a um plano inferior.
Fonte: Revista Enfoque Gospel Edição nº 85